Manhã de primavera. terça-feira, set 21 2010 

Ela diz que foi um dia lindo, cheio de flores, de um sol perfeito.

Ele diz que o ar estava cheio de cheiros, e o verde da floresta estava maravilhoso.

Ela havia passado a noite no laboratório do pai, estudando novas poções, e saiu logo cedo para apanhar ervas frescas. Vestia um vestido longo, de um azul profundo, q contrastava lindamente com sua pele e seus cabelos claros. Se armou com uma cesta, para apanhar as ervas e saiu. Caminhou por um longo tempo entre as arvores, colhendo aqui e ali o que precisava. Mas a floresta estava tomada de flores, e algum tempo depois, em uma pequena clareira, e já com a cesta cheia delas, sentou-se, e começou a trançá-las em forma de coroa, para ofertar a Deusa.

Ele passou a noite com a matilha. Caçaram alguns vampiros que apareceram no território, e Ares estava com o ego lá em cima, por ter conseguido eliminar mais alguns malditos da face de Gaya. Voltou ao alvorecer, junto com os outros, e, ao invés de ir descansar, voltou a forma humana, tomou um banho, e disse q ia dar umas voltas na floresta, aspirar ar puro ver a beleza de Gaya em seu resplendor natural. Vestiu um jeans, e jogou a camisa sobre os ombros, e saiu sem rumo, apenas apreciando o ar puro da floresta, buscando revigorar suas forças nesse contato. Algum tempo depois, apanhou uma maçã fresca, recostou-se a uma arvore, e começou a comê-la com gosto. Foi quando um cheiro sutil, mas bem conhecido, invadiu suas narinas. “Vampiro”. Sua mente apontou logo a ideia, e o ódio pela raça maldita invadiu todos os seus sentidos. Imediatamente, ele se tornou aquilo que realmente era: um caçador. Saiu pela mata, seguindo o rastro do cheiro nojento, mantendo-se oculto entre a vegetação, esperando pegar o ser nojento desprevenido. Mas algo parecia estar errado. Como poderia haver um vampiro ali, no meio da manhã? Possivelmente, algum maldito se abrigara no local, e estaria em seu transe diurno, escondido na vegetação, se achando a salvo. Ares salivava, imaginando se mataria o vampiro ainda dormindo, ou se o levaria para despertar em meio a matilha. Sorriu consigo mesmo, pensando no quanto seria divertido ver a cara de susto do ser nojento..

Esgueirou-se por entre as arvores, sem fazer barulho..parecia que a coisa estava por perto. Mas o que ele não entendia, é que o cheiro parecia vir de uma área bem mais aberta a sua frente. Ares buscou um tronco mais grosso onde se ocultar, e tentou ver a criatura. E o que viu foi uma mulher, ali sentada, de costas pra ele…cabelos loiros que brilhavam ao sol. Parecia concentrada em algo. O garou franziu a sobrancelha. Algo ali não parecia se encaixar. Como essa mulher podia estar sentada, em atividade no meio da manha, se cheirava como um maldito? Definitivamente estava errado. Decidiu verificar de perto. Afinal, era apenas uma mulher, e seja lá o que fosse, ele estava preparado para enfrentá-la. Ajeitou a camisa no ombro, e saiu da mata em direção a mulher.

– Bom dia.

Disse, enquanto se aproximava. Ela virou, assustada, se maldizendo por estar tao distraída que não percebeu que mais alguém estava próximo. Ficou de pé com um pulo, derrubando todas as flores no chão, e a primeira coisa que notou foi o quanto ele era mais alto que ela. E logo em seguida, teve certeza do ‘que’ ele era. Procurou com os olhos uma possível rota de fuga, enquanto forçava um meio sorriso, e respondia.

– Bom dia, senhor.

Syn sabia que não havia muito a fazer. Tinha certeza que ele era um garou, e sabia bem que os da raça dele não pensavam duas vezes em estraçalhar os que eram como ela. Tinha magias e velocidade de sobra para escapar, mas o diabo do bicho a pegara desprevenida. Fitou os olhos dele, e só então percebeu o quanto ele era bonito.

O garou teve q engolir o susto, quando ela ficou de pé rapidamente a sua frente. A primeira coisa que viu foram os olhos…azuis. Dava até vontade de se afogar neles. Nos milésimos de segundo q ela levou pra ficar de pé e responder, ele percorreu todo o seu corpo com o olhar. Parecia tao frágil…e tão linda. Quando fitou novamente seus olhos, teve vontade de rir. Eles pareciam dizer com todas as palavras que ela estava com raiva, e acuada, ao mesmo tempo. Aquilo pra ele era diversão pura. E quem ia negar a ele o direito de se divertir com uma caça tão…..bela? Abriu um dos seus sorrisos encantadores.

Desculpe, não queria atrapalhar. – ele disse apontando para a coroa de flores largada no chão. – Posso?

Perguntou, já sentando, ao lado de onde ela estava sentada antes. Ela olhou aquilo, ergueu uma sobrancelha, num gesto tipico seu, pensando no que poderia querer aquele garou. Sabia que alguns garou tinham amizade pelos magos, mas não tinha ilusão de q ele não soubesse que ela era uma vampira. E os garou não são conhecidos por terem amizade com vampiros. A não ser que….a ideia que passou pela sua cabeça a fez querer gargalhar. Bem, se esse garou desejar tal coisa, vai aprender uma lição…Sentou ao lado dele, sorrindo, com os olhos brilhando de novo. Tudo que ela mais gostava era um desafio. E um garou metido a conquistador seria um desafio no minimo, divertido. Tomou as flores e voltou a trançar a coroa, ja se sentindo completamente calma, enquanto sua mente fervilhava, se pondo em prontidão para um possível ataque da parte dele. Mas o que ela suspeitava ia tomando forma, enquanto o garou perguntava do clima, fazia elogios as flores, tão descaradamente galanteador que ela tinha que segurar o riso. E assim passou um bom tempo, os dois lado a lado, sentados em meio a bela clareira, iluminados por um sol radiante… Ele, tentando jogar iscas para adicionar a vampira em sua conuista amorosa, ela se esquivando e achando graça secretamente.

Já em casa, Ares não conseguia encontrar uma desculpa convincente para si mesmo, do por que a tinha deixado ir intacta pra casa.

Ela não conseguia parar de sorrir, lembrando das tentativas frustradas dele em conquista-la.

Ambos pensavam em retornar a floresta no dia seguinte.

Afinal, quem sabe???

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Syn é uma personagem de RPG ( vc não sabe o que é? então clica aqui, e descubra). Ela passeia por varios universos do role playing, especialmente WoD, sendo, portanto, pura ficção.

Por alguns anos, joguei com ela,  e uma campanha em particular marcou muito: quando ela se envolveu com o garou Ares. A historia ganhou um espaço consideravel em minha imaginaçao, ao ponto de que eu extrapolasse as fronteiras do RPG, e fosse bem além.

Aprendi muito com o RPG, mas sempre vale o lembrete do pessoal do Page of Mirrors:

RPG é um jogo. Como tal, ele não requer apenas imaginação, mas também bom senso. O bom senso diz que as palavras de um jogo imaginário não são reais. O bom senso diz que as pessoas não devem tentar realizar “feitiços mágicos” baseadas em uma criação totalmente derivada da imaginação de outra pessoa. O bom senso diz que você não deve tentar desvendar agentes do sobrenatural com inspiração em uma obra completamente fictícia. O bom senso diz que jogos são apenas para se divertir e quando eles acabam, é hora de colocá-los de lado.
Se você perceber que está distante do bom senso, desligue seu computador, afaste-se calmamente e procure ajuda profissional.
Para o restante de vocês, aproveitem as irrestritas possibilidades de sua imaginação.

Indefinivel. sexta-feira, set 10 2010 

A cidade enlouquece
os sonhos tortos
Na verdade nada
é o que parece ser
As pessoas enlouquecem calmamente
Viciosamente, sem prazer..”

Acordou com a familiar sensação de que tinha acabado de se deitar. Já fazia muito tempo que não sabia o que era uma noite bem dormida. “Tanto faz…” pensou, pegando o relógio de cabeceira para ver as horas. 17:37.

-Bem, mas um dia que começa…

Falou, com um sorriso amargo nos lábios, achando graça em ser irônica consigo mesma. Lembrou dos planos da noite, e o sorriso sumiu. Levantou, um banho, engoliu qualquer coisa que estava na geladeira, voltou para o quarto. Silencio…nem TV, nem musica, nada. Não queria ouvir nada, nem ninguém, não tinha vontade. Caminhou ate a janela, encostando o nariz no vidro frio. Os sons da cidade, dos carros, de musica alta tocando pelas casas vizinhas…esses sons ela não tinha como fazer sumir. Mas não importava. Ficou ainda um tempo ali, nariz no vidro, sem pensar em nada, planejar nada. De repente sacudiu a cabeça, e franziu a testa, tentando se lembrar que tinha algo a fazer. Já estava novamente se deixando levar pelo vazio que dominava tudo ao seu redor. Há muito tempo tudo estava vazio. Ela bem que tentou, bem que fez muito esforço para sair, falar com as pessoas, preencher esse vazio. Mas não tinha dado muito certo, no fim, ela acabava sozinha, e já nem mesmo suportava mais ter que falar com as pessoas. Elas nunca entendiam.

“A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite não”

Sentada em frente ao espelho, começou uma meticulosa arrumação de si mesma. Trajava uma roupa simples e toda preta, saia longa, blusa que lembrava um espartilho, meias rasgadas, e botas pesadas. O visual de roqueira decadente que gostava de usar. Maquiou-se com esmero, cada traço, aperfeiçoando o aspecto borrado da coisa toda. Não havia pressa nela, alias, não havia objetivo nenhum, não tinha por quem ou pelo que fazer isso, apenas fazia. Apoiou o cotovelo na mesa, se olhando, e ficou por um tempo imaginando como seria bom ter alguém por quem se arrumar, não um desses que apenas a achavam bonita, isso tinha aos montes, mas sim um homem que a entendesse e amparasse, com quem fosse possível ter uma parceria, amizade, amor, quem sabe uma família de verdade….piscou os olhos como se acordasse, não fazia sentido ficar pensando em coisas que nunca aconteceriam.

“As cortinas transparentes não revelam
O que é solitude, o que é solidão
Um desejo violento bate sem querer
Pânico, vertigem, obsessão”

Andou por toda a zona da cidade onde costumavam ficar seus conhecidos, barzinhos cheios de roqueiros como ela, musicas das bandas que um dia ela gostou de ouvir, gente que um dia ela achou legal. Beijos, abraços, copos de cerveja, cigarros compartilhados. Sorriu, até chegou a brincar com algumas pessoas. Pena que sabia que aquilo era coisa só daquele momento, logo a noite passava, e não tinha ninguém que ela gostaria de levar para casa, um braço para encostar a cabeça, e ter proteção, quem sabe até uma boa noite de sono…Apostaria que muitos gostariam de ir, mas o que ela queria, o que precisava, sabia que ninguém podia dar. E quem podia, tinha feito outra escolha…

“A maior expressão da angústia
Pode ser a depressão
Algo que você pressente
Indefinível
Mas não tente se matar
Pelo menos essa noite, não”

Madrugada. Como sempre, tudo já estava incomodando. Bem, ninguém podia dizer que ela não tentou uma ultima vez. Havia saído, passado mais uma noite nos lugares que gostava, fazendo o que gostava, com gente que gostava. Todos pareciam bem, mais uma prova que o problema era com ela mesma, o defeito estava dentro de si. Sem se despedir, foi deixando a zona dos barzinhos, seguindo os trilhos do trem. O vento noturno, com aquele cheiro característico da madrugada, dava um certo alento, olhou ao céu, e viu as estrelas. Pelo menos alguém estaria com ela naquele momento. Sorriu. Era uma bonita noite. Uma noite perfeita. Brincou de andar sobre os trilhos, testando o equilíbrio. Riu sozinha, com a brincadeira que lembrava os tempos de criança. Seu coração batia forte, um nó na garganta. Vontade de correr. “ Se ao menos alguém..” mas não, não havia ninguém, nem ia haver, já estava com vergonha das tantas vezes que tinha pedido socorro e ninguém entendia. Viaduto. Vento. Estrelas. Abriu os braços, tentou sorrir para a adorada noite, mas as lagrimas e o nó na garganta tolheram seu sorriso. Escorreram, borrando ainda mais a maquiagem. Não queria olhar para baixo. Fitou as estrelas. Quando o sol beijou o asfalto, seu corpo era apenas mais um no necrotério….
“Tá sozinha, tá sem onda, tá com medo
Seus fantasmas, seu enredo, seu destino
Toda noite uma imagem diferente
Consciente, inconsciente, desatino”

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ATENÇÃO

A depressão não escolhe ninguém pela classe social, etnia, gênero ou idade. Nem é preciso estar vivendo numa situação extrema como a miséria ou a perda de uma pessoa amada para adoecer. E sim, a depressão é uma doença. As pessoas com doença depressiva (estima-se que 17% das pessoas adultas sofram de uma doença depressiva em algum período da vida) não podem, simplesmente, melhorar por conta própria e através dos pensamentos positivos, conhecendo pessoas novas, viajando, passeando ou tirando férias. Sem tratamento, os sintomas podem durar semanas, meses ou anos. O tratamento adequado, entretanto, pode ajudar a maioria das pessoas que sofrem de depressão.

Esse conto foi inspirado com a leitura do livro O Demônio do Meio-dia – Uma Anatomia da Depressão, de Andrew Solomon, excelente livro, escrito por alguém que viveu todas as faces da doença.

Hoje, o estigma da depressão parece estar diminuindo, existem diversas formas de tratamento mas a depressão continua marginalizando e causando enormes danos à vida de milhões de pessoas.

Li essa materia aqui.
e copiei algumas partes, espero que a pessoa que escreveu não se incomode.

A musica, em destaque no texto, é do Lobão: “Essa Noite, Não”

Encontro fatal segunda-feira, set 6 2010 

Seu coração batia desregulado. Presa pelo feitiço poderoso da criatura, mal lhe restava a capacidade de pensar. O cheiro dele entrava pela sua narina de uma forma atroz, uma mistura de podridão e perfume, suor, sangue e volúpia que a entontecia, encantava, e enojava. E o toque… a pele fria e ao mesmo tempo suave….os dedos dele percorrendo seu pescoço eram a mais aterrorizante caricia que ela recebera…medo e prazer a fizeram desejar gritar, mas o grito não saiu da sua garganta, ao mesmo tempo que sentia umidade entre as pernas…enquanto os olhos dele a hipnotizavam, fisgavam o mais profundo do seu ser, ela ouvia tambores descompassados, e instintivamente soube que era o seu coração. E soube que era a ultima vez que o ouvia bater daquele jeito….

Sentiu o puxão no cabelo no momento que transferia energia para a muda de Juniperus Communis, da qual pretendia extrair um óleo enriquecido o mais rápido possível. Deu um pulo para trás como um gato, e ouviu a gargalhada de Adrian.

— Esta ficando lerda, Syn, é a idade?

Ela sentiu as bochechas ficarem vermelhas, tanto da vergonha de ser pega desprevenida, tanto de raiva da forma que Adrian sempre achava para tirar uma com a cara dela. Encarou ele, bufando, e saiu correndo para alcançá-lo.

— Você me paga, Adrian. Já te mostro quem é que tem idade para ser lerdo.

Ele saiu correndo entre as arvores, ainda gargalhando, fingindo que fugia da fúria dela. Syn não tinha irmãos, e apesar de Adrian ser quase 10 anos mais velho, era com ele que ela passava a maior parte do tempo, treinando juntos, mas também dividindo bons momentos de amizade. Eram companheiros inseparáveis, os dois trabalhavam nos laboratórios do pai dela, Phillip Sangery, um renomado mago, que havia alcançado grande poder e sabedoria. Pra Syn, estar junto ao pai e aprender com ele era algo que beirava a idolatria, para Adrian, era uma grande honra ter essa chance. Os dois não desperdiçavam esforços para serem bem vistos pelo mago mestre. Adrian deu a volta a um velho carvalho, justo quando Syn o estava tocando, e a agarrou pela cintura, os dois indo parar no chão. Adrian fingiu que lutava com ela por alguns instantes, depois a imobilizou, e olhando nos olhos dela, disse:

— Calma, ferinha, guarde essa energia para o vampiro que esta na floresta.

Syn arregalou os olhos.

— É mesmo um vampiro?

Ele fez que sim com a cabeça, e deitou ao lado dela, os dois olhando o céu.

— Pensei que poderíamos pegá-lo hoje a noite.

    Ela corria, pisando gravetos e folhas secas no chão. Já havia identificado de onde vinha o rastro que seguia, e todos os indícios levavam a crer que era mesmo um vampiro. Estava ofegante, mas mesmo assim, um sorriso pairava em seus lábios, imaginando o brilho no olhar de Phill, quando ela lhe entregasse a criatura para seus estudos. Queria ver o pai orgulhoso dela, isso era a melhor sensação do mundo. Um vampiro… Por mais que fossem temidos pelos humanos, vampiros costumavam ser presas fáceis para magos como ela, as capacidades deles normalmente não eram páreo para a mágika dos despertos. Enquanto corria, Syn já imaginava o que poderia extrair da criatura. Adrian ia um pouco mais a frente, os dois cercando o vampiro pelos flancos, não iriam dar a ele a chance de uma rota de fuga. De repente, sem aviso, foi como se a própria umbra revelasse suas entranhas, e num baque surdo, o mais horrendo monstro que ela já vira pousou no chão a sua frente. A criatura devia ter pelo menos 3 metros de altura, e apesar de seu corpo ter formas humanas, aquilo tinha bem pouco de humano em si próprio. Syn sentiu mais que o baque do pouso do ser: sentiu o próprio ar estalar com a malignidade emanada dele. Antes que esboçasse reação, Adrian apareceu por trás da criatura, evocando sua magia para atacá-lo. Foi ai que o mundo enlouqueceu: com uma velocidade impressionante, o monstro avançou em Adrian, e o jogou longe, Syn tentou lançar um feitiço para prendê-lo, mas quase no mesmo instante sentiu a patada dele em seu peito, e foi arremessada alguns metros a frente. A criatura parecia sorrir para ela, enquanto o resto do mundo rodopiava. Sentiu quando a mão dele se fechou contra seu pescoço, mas a dor dos ossos partidos em seu peito sufocava qualquer reação. Ela definitivamente não estava preparada para um embate físico. Seu corpo era o corpo comum de uma adolescente de 17 anos que não era fã de exercícios, e apesar de ser bem torneado, não era forte. Syn tinha a mágika a sua disposição, e isso sempre foi suficiente…até agora. Ouviu Adrian gritar, e o monstro se virou para ele, ainda segurando ela pelo pescoço, como se fosse apenas uma boneca que para ele não tinha peso algum. A dor foi lancinante. Via Adrian em meio a um esboço, o amigo enfrentava a criatura…de repente, uma movimentação mais rápida, uma vibração intensa no ar, e o silencio….

    Agora via a loucura na qual tinha se metido. O que estava pensando quando veio junto com Adrian para essa “aventura”? Em que estava pensando quando acreditou que os dois seriam capazes de enfrentar o que quer que seja que estava rondando a floresta? Quando sentiu seu corpo ser erguido, abriu os olhos e se deparou com os olhos da criatura. Ele a olhava com desejo. Sentiu a força dele a prendendo, e soube que não era apenas força física. Havia magia naquele ser, uma magia antiga e tão maligna, que beirava a obscenidade. O terror de estar nas garras dele era indescritível, mas algo mais brotou dentro dela, fruto do poder do monstro: Syn desejou ser dele. Ela com certeza não se dava conta de todas as emoções que sentia ali, o instinto de sobrevivência sendo superado pelo desejo de se submeter a ele…desejou saber seu nome. Seus lábios queriam pronunciar o nome da maravilhosa criatura, e se encheu de angustia por não saber a palavra. A doce e promissora bruxa, a promessa do coven, a herdeira dos Sangery, naquele momento só desejava se submeter…Seu coração disparou, os olhos dele prendiam os dela, enquanto ele aproximava o rosto do seu. Aquilo pareceu um êxtase nos poucos segundos que durou. Parecia o anuncio de um beijo, mas a boca dele não colou na sua…Syn sentiu o beijo no pescoço, o carinho…e a dor….

    Foi a ultima vez que o sangue correu em suas veias.

    A Matilha sexta-feira, set 3 2010 

    Ares desferiu mais uma patada no outro garou. Seu peito já estava coberto de sangue. Tinha assistido o embate entre os garou que  almejam seu posto de líder da matilha. Como rezava a tradição os garou mais destacados lutavam entre si, e o vencedor lutava com ele. Afinal, nenhum deles aceitaria a liderança de um garou que dividia a vida com uma vampira e ele tinha que deixar seu posto. Mas não sem antes outro garou provar que era mais forte que ele. Toda a matilha o olhara com desprezo quando ele falou aos anciões.

    – Se você deseja se compurscar vivendo com uma maldita, Ares, não há mais nada a ser dito.

    Todos os guerreiros presente lhe viraram as costas, deixando claro que tinham vergonha dele agora. Ele enfrentava o vencedor dos outros. A raiva e o desprezo que o outro sentia se transformou em fúria guerreira, e só restava a Ares enfrenta-lo com toda a sua força, e resguardar ao menos seu orgulho. Os dois agora se mediam frente a frente, e rosnavam como animais selvagens. Avançaram um para o outro, toda a fúria se traduzindo em patadas e mordidas. Usando sua experiência, o garou mais velho derrubou o outro e o imobilizou no chão, com a pata erguida, pronto para lhe arrancar a cabeça, mas esperando o sinal de rendição do jovem. Os duelos dos garous não visavam a morte do oponente, mas sim a confirmação da superioridade e força, que vinham com o sinal de rendição do perdedor. O jovem, vendo-se incapaz de escapar da força de Ares, titubeou uns instantes, mas ergueu a mão em sinal de rendição. Afinal, ele perdia a luta, mas ganhava o posto de líder da matilha. Ares socou o chão e se levantou, dando um rosnado medonho, selvagem e alto o suficiente para ser ouvido nos arredores da tribo. Era seu ultimo grito de batalha como chefe de seu povo. Juntou suas forças e, mesmo muito ferido, saiu de cabeça erguida da arena. Provara que era um guerreiro sem igual, mas também provava que o amor q sentia pela vampira era maior que qualquer orgulho de raça. O silencio caiu sobre a tribo e todos os olhos acompanharam o garou sair. Ele deu uma olhada em torno, encarando o rosto daqueles com quem havia lutado lado a lado, e sempre considerara irmãos. Alguns viraram a cara, mas pode ver nos olhos de um ou outro que ainda restava admiração e amizade por ele.

    No fim do dia, na hora do crepúsculo, eles se encontraram. Apenas se olharam em silencio, um sabendo da dor do outro. Ela passou a mão pelos ferimentos no peito dele, sabendo que a maior dor que ele sentia não era ali, mas na alma. Abraçou o amado, com lagrimas silenciosas a correr de seus olhos. Ares não chorou, mas ela sentia que por dentro o garou sangrava. O envolveu com ternura, beijando seus cabelos dourados pelos últimos raios do sol.

    -Acabou, meu amor… Agora somos só nós dois…